Eles encontraram o filhote ‘Floquildo’ doente quando iam para um bar.
Animal virá para o Brasil com dinheiro arrecadado em campanha na web.
Um casal de namorados brasileiros que está viajando pela Oceania e pela Ásia vai voltar com um “souvenir” diferente: um gato que os dois encontraram pelo caminho em uma rua de uma cidade do Laos.
O filhote chamou a atenção dos jornalistas Carolina Vila-Nova, de 37 anos, e Solly Boussidan, de 33, no dia 6 de abril. Eles iam para um bar na cidade de Luang Prabang quando o viram em uma calçada e perceberam que estava doente e com febre.
Depois de muitas idas e vindas e de não conseguirem lugar para deixar o gato, resolveram levá-lo com eles para o restante da viagem pelo Sudeste Asiático.
O gato foi batizado de Floquildo Laotiano (inicialmente, Floquilda Laotiana, pois eles achavam que se tratava de uma fêmea).
Em uma caixa de papelão com buracos improvisados – e posteriormente em uma caixa de transporte que adquiriram –, o bichinho acompanhou os novos donos brasileiros pelas sinuosas e esburacadas estradas da região, em viagens em minivans com até 12 horas de duração.
Na hora de sair do país, ficou escondido no ônibus enquanto Carolina, Solly e os demais passageiros passavam as bagagens por um aparelho de raios-X. “Foi assim que o gatinho foi ‘contrabandeado’ para dentro do Vietnã”, contou Carolina ao G1.
Depois de mais de um mês de viagem com Floquildo, o casal resolveu enviá-lo para o Brasil. O problema eram os custos da viagem: cerca de US$ 2 mil (R$ 4 mil), entre passagem, documentos e atenção veterinária.
“Acabamos nos apegando muito ao gatinho, e ele a nós. Se não estivéssemos viajando há tanto tempo, teríamos condições de bancar a viagem dele, mas infelizmente precisamos das doações”, diz Carolina.
Eles criaram, então, a campanha “Ajude Floquildo a ganhar um lar brasileiro”, para arrecadar o valor e doar o restante para uma ONG brasileira de adoção de gatos.
Conseguiram mais do que o necessário em 36 horas, e agora estão readaptando os planos de viagem para que ele volte na cabine com Carolina, que vai ficar com ele quando voltar.
“Nossa ideia inicial era que ele viajasse sozinho, porque queríamos prosseguir viagem por mais um mês. Mas os custos seriam astronômicos. Por isso, uma empresa que contatamos e que se compadeceu da história toda nos recomendou que ele venha como ‘bagagem acompanhada’”, diz Carolina.
Monges
Carolina e Solly estão viajando juntos desde agosto do ano passado, e já passaram por destinos como Fiji, Samoa, Tonga, Nova Zelândia, Austrália, Tailândia e Mianmar.
Desde que resgataram o filhote, que hoje tem cerca de três meses de idade, enfrentaram uma saga para cuidar dele (que incluiu várias idas a veterinários e dias dedicados a resolver questões burocráticas) e conseguir uma forma de abrigá-lo.
No início, conseguiram que ele ficasse com monges de um templo budista. “Mas os monges são ascetas e saem todos os dias para recolher alimento da população. Percebemos que Floquildo estava passando fome quando fomos visitá-lo e o flagramos vasculhando sacos de lixo”, conta Carolina.
Ela e o namorado tentaram, então, encontrar interessados na adoção na Ásia. “Isso teria sido a solução ideal, mas não houve interessados”, diz.
A busca por ONGs de resgates de animais também não deu certo. No Laos, a principal delas estava fazendo um apelo por doações e corria o risco de fechar.
“Acabamos desistindo. Não existe nessa região da Ásia uma cultura de animais de estimação. Cães são mantidos fora de casa e comem as sobras. Veterinários são raros e pet shops, mais ainda”, conta Carolina, que convive com gatos desde que era pequena – sua família chegou a ter oito gatos em casa ao mesmo tempo. Já Solly nunca havia tido gatos até encontrar o filhote no Laos.
A reação das pessoas que veem o casal de estrangeiros percorrendo o Sudeste Asiático com um gato é de incredulidade. “Já perdemos a conta de quantas vezes contamos a história do resgate de Floquildo. Em geral as pessoas agem com bom humor e se mostram genuinamente interessadas. Outro dia, uma britânica pediu para tirar uma foto ‘dos dois brasileiros doidos e seu gatinho’”, conta Carolina.