Bayard Boiteux

Cuba tem atrativos além de Havana e Varadero; saiba como viajar pela ilha

Cuba tem atrativos além de Havana e Varadero; saiba como viajar pela ilha

Muitos turistas que vão a Cuba colocam no roteiro apenas os dois destinos mais conhecidos da ilha: a capital Havana, conhecida por ser uma “cidade parada no tempo”, e o balneário de Varadero, com resorts em praias paradisíacas. Mas quem estiver disposto a se aventurar um pouco tem muito mais a desvendar nesse destino.

A variedade de opções no país onde faz calor o ano todo pode deixar o viajante indeciso. É possível observar peixes em praias de areias brancas e águas verde-esmeralda nos cayos (ilhotas), fazer trilhas em montanhas com cachoeiras, conhecer reservas naturais com aves exóticas e ainda apreciar belezas arquitetônicas em cidades listadas como patrimônio mundial pela Unesco.

Para os amantes da história revolucionária cubana, há ainda a experiência única de presenciar como é a vida no país socialista de um povo sem luxo, mas que respira cultura o tempo todo – boa música ao vivo e telas de artistas cubanos podem ser encontradas em qualquer esquina. Monumentos, painéis e outdoors de Che Guevara e Fidel Castro, ícones da revolução de 1959, e do herói da independência cubana José Martí também podem ser fotografados com frequência.

É importante, porém, fazer uma ressalva: até mesmo para viajantes experientes, Cuba pode apresentar contratempos. Isso porque muitos hábitos que facilitam a vida nas viagens são raros por lá, como pagar com cartão de crédito, sacar dinheiro em caixas eletrônicos ou reservar hospedagem em cima da hora pela internet durante a viagem (o acesso à rede na ilha é bastante limitado).

Até mesmo comprar um cartão telefônico para fazer chamadas internacionais ou encontrar um adaptador de tomada para carregar um celular pode ser uma verdadeira odisseia, caso o viajante não saiba falar bem o espanhol nem esteja disposto a bater perna pelas cidades (há poucos pontos de venda).

Mas com um pouco de preparo e informação é possível tirar o melhor proveito de uma viagem pela ilha com um mapa na mão e uma mochila nas costas. Veja a seguir as dicas preparadas pelo G1.

Por dentro de Cuba: sugestões de destinos na ilha
Parada indispensável para qualquer pessoa que visite o país, Havana impressiona dos dois lados. Positivamente pela sensação de realmente estar de volta aos anos 1950, com carros antigos e coloridos pelas ruas, cercadas de prédios ainda praticamente da mesma forma que foram deixados na época da revolução, em 1959.

A impressão negativa é a de sujeira, com a falta de revitalização de edifícios e vias. De qualquer forma, os prédios e carros antigos e os “bicitaxis” (bicicletas com lugares para o passageiro na parte de trás), somados à maresia, dão à capital cubana um ar único.

Entre as paradas obrigatórias está o Museu da Revolução e o Malecón (avenida beira-mar). Na capital também é possível visitar tradicionais fábricas de charutos e comprar rum de ótima qualidade.

Um dos passeios que costumam ser procurados pelos viajantes é o que leva às montanhas de Sierra Maestra, onde Fidel Castro comandou guerrilhas no final dos anos 1950.

Outra cidade bastante popular é Santiago de Cuba, mais ao oriente da ilha, conhecida por festivais de música e uma vida agitada.

Listada como patrimônio cultural pela Unesco desde 1988, Trinidad é um município muito apreciado pelos turistas por suas charmosas casas coloniais, ruas de pedras, cavalos e charretes e vida noturna agitada, com casas de música ao vivo e discotecas. Fica a cerca de 350 quilômetros ao oriente de Havana.

De Trinidad é possível visitar a Praia Ancón, de mar calmo e água cristalina, que fica a cerca de 12 quilômetros do centro. Muitos turistas alugam bicicleta para ir pedalando, por indicação de guias de viagem, mas há um ônibus que faz o trajeto por um preço acessível. Também é possível fechar pacotes em agências de turismo fazer trilhas em montanhas com lindas cachoeiras.

Também reconhecida como patrimônio mundial pela Unesco, a charmosa cidade deCienfuegos é um prato cheio para os amantes da arquitetura francesa. O centro da cidade possui uma praça com uma catedral, rodeada de edifícios e ruas que dão acesso a um pequeno porto em uma baía. Charretes e cavalos passam com frequência. Possui também um parque ecológico onde é possível observar inúmeros flamingos e flora local.

Perto dali, a 280 quilômetros de Havana, fica Santa Clara, conhecida como a cidade do “Che”. É opção para admiradores de Che Guevara, onde há um memorial do herói revolucionário e também é possível visitar o local onde os rebeldes descarrilaram um trem, num ato essencial para a queda do ditador Fulgêncio Batista, na época da revolução.

Do outro lado, 180 quilômetros a oeste de Havana, fica Valle de Vinales, uma calma vila montanhosa de belas paisagens, onde é possível fazer passeios a cavalo, conhecer cavernas e visitar plantações de tabaco.

Os turistas em busca de praias de areias finas e claras e mar cor verde-esmeralda podem conhecer os cayos. Entre os mais conhecidos estão o Cayo Coco e o Cayo Guillermo, que ficam um do lado do outro, famosos por terem sido bastante visitados pelo escritor americano Ernest Hemingway, que viveu em Cuba.

Não há ônibus para o local e é preciso ir até uma cidade próxima, geralmente Morón ou Ciego de Ávila, e atravessar até a ilha de táxi, o que torna a visita um pouco “salgada”. No local também não há casas particulares e o turista que quiser ficar perto da praia terá de pagar a diária em um resort — há opções mais econômicas em locais distantes, mas exigem prévia pesquisa. A vista e o mar, contudo, compensam o sacrifício. No Cayo Guillermo, uma das praias mais procuradas é a Pilar, com um mar calmo e água cristalina.

Com praias sempre cheias de turistas e resorts de frente para o mar, Varadero talvez não seja o destino clássico buscado por mochileiros, mas suas belas praias de areia fina e mar azul valem a visita. A principal avenida é repleta de bares com drinques e música ao vivo.

Visto e seguro de viagem
Brasileiros precisam de visto para entrar em Cuba. É possível tirar o visto pelos Correios ou pessoalmente, nos consulados (há unidades em São Paulo e Brasília, veja aqui os endereços e telefones dos consulados para informações e documentos necessários). De acordo com o consulado em São Paulo, tirar o documento pessoalmente sai por R$ 45 (fica pronto na hora). Pelos Correios é preciso pagar uma taxa extra de R$ 75 e deve ser solicitado com no mínimo dez dias de antecedência.

Cuba também exige que seja feito seguro de viagem com cobertura de despesas médicas, que pode ser adquirido com antecedência no Brasil em agências de turismo e empresas especializadas ou na chegada a Cuba (não há necessidade de apresentar comprovante no consulado para tirar o visto).

Passagem aérea
Desde julho, a empresa aérea Cubana de Aviación voltou a fazer voos diretos de São Paulo a Havana – a companhia havia interrompido as operações no Brasil em 2005. O facilitador, aliás, é mais de economia de tempo do que de dinheiro, porque os preços são parecidos com os dos demais voos de outras companhias, com escalas e conexões.

Gastos e moeda
A ilha não é um dos destinos mais econômicos. Apesar do custo de vida ser muito barato para os cubanos, os preços turísticos não são dos mais acessíveis.

Uma viagem considerada “econômica” vai exigir do turista desembolsar o equivalmente a R$ 180 a R$ 200 por dia – levando em conta o atual real desvalorizado, que encarece qualquer passeio lá fora.

A ilha tem duas moedas, uma para os cubanos, o peso cubano (CUP), e outra para os turistas, o peso conversível, o CUC. Um CUC equivale a 24 pesos cubanos.

Na teoria, o CUC vale US$ 1 (segundo a cotação oficial do Banco Central de Cuba). Na prática, não é recomendado levar dólares para trocar no país, tendo em vista que a moeda norte-americana será desvalorizada em aproximadamente 15% na troca, devido à má relação de Cuba com os Estados Unidos.

Dessa forma, o mais comum é levar euros. Cada euro costuma valer em torno de 1,25 CUC (mas a variação é constante).

O mais prático é calcular os gastos antes da viagem e levar tudo em dinheiro vivo. O turista que resolver deixar para sacar aos poucos, quando chegar a Cuba, pode ficar na mão – há pouquíssimos caixas eletrônicos e a economia local funciona com dinheiro em papel.

Ao chegar, o viajante já pode trocar uma parte do valor logo no aeroporto (onde há casa de câmbio) e deixar para ir trocando o resto no decorrer da viagem. Sempre há um banco ou uma casa de câmbio nas cidades (elas costumam funcionar em horário comercial).

O turista até pode trocar um pequeno valor em CUP, mas terá pouca utilidade (pode servir para gorjetas ou compras de artesanatos). Nos serviços em geral, a moeda cobrada dos turistas é o CUC.

Transporte dentro das cidades
O transporte público é praticamente inviável a turistas, a não ser que o viajante tenha realmente espírito aventureiro – os ônibus estão sempre superlotados (soma-se isso ao calor de Cuba) e não têm muita hora fixa para passar, segundo depoimentos dos próprios cubanos.

Dessa forma, o deslocamento de turistas dentro das cidades fica restrito a caminhadas ou ao uso de táxis, “bicitáxis” e “cocotáxis  (pequenas motos adaptadas com lugar para o passageiro, em formato de coco).

Qualquer curto deslocamento dentro de uma mesma cidade pode custar de 3 CUC, 10 CUC ou até mais. Com o real desvalorizado (o euro está acima de R$ 3), fica algo como R$ 10 para ser transportado por alguns quarteirões.

Do aeroporto Aeroporto Internacional de Cuba José Martí até o Parque Central (no centro histórico de Havana), uma distância de aproximadamente 20 quilômetros, o preço da corrida de táxi costuma ser de 25 CUC.

Transporte entre as cidades
Para o transporte entre uma cidade é outra, a opção mais acessível são os ônibus da empresa Viazul (www.viazul.com). Há viagens para praticamente todos os principais destinos de quem está interessado em conhecer Cuba a fundo. Os ônibus estão em bom estado e possuem ar-condicionado. Contudo, nem sempre as saídas são pontuais.

É possível ver preços e reservar passagens com antecedência pelo site, mas é importante ressaltar que não há fácil acesso à internet em Cuba. Dessa forma, é aconselhável já programar tudo antes de chegar ao país. Pessoalmente, o bilhete só pode ser comprado nas rodoviárias e há o risco de o ônibus estar lotado para quem chegar em cima da hora.

As passagens costumam custar de 6 CUC a 20 CUC, entre cidades mais próximas, mas podem ultrapassar 50 CUC para destinos mais longos. A esse valor o viajante precisa acrescentar o deslocamento entre a rodoviária de cada cidade e a estadia – geralmente há inúmeros táxis e “bicitáxis” assediando os turistas que chegam nos ônibus da empresa em cada cidade. Do centro de Havana até o terminal rodoviário da Viazul na mesma cidade, por exemplo, os taxistas costumam cobrar 10 CUC a corrida (quando a rodoviária é mais perto, pode custar menos, de 3 a 5 CUC).

Há também a possibilidade de alugar carro ou ir de táxi. Alguns trajetos (como para os cayos), também podem ser feitos de barco ou avião.

Alimentação
A comida em Cuba é parecida com a brasileira no principal quesito: o arroz e o feijão preto (misturados) podem ser encontrados com facilidade em qualquer restaurante de comida tradicional. O cafezinho também é bastante comum.

Somam-se às guarnições carne de porco, frango ou frutos do mar, como o camarão. A banana frita com sal (no estilo de batatas fritas) ou amassada junto com a comida é tradicional. Nos centros das principais cidades há também diversidade de restaurantes para os turistas com comida italiana (massas e pizza).

No café da manhã, frutas como goiaba, banada, abacaxi e manga são comuns. O leite é bastante forte, o que transmite a sensação de ter acabado de ser tirado da vaca.

Um prato considerado econômico sai por até 10 CUC. A garrafa de água costuma custar 1 CUC (por questões de higiene, é aconselhável só tomar água engarrafada) e a de cerveja, 2 CUC, em média. Coquetéis tradicionais cubanos como Mojito (rum, limão e hortelã) e Pina Colada (rum, leite de coco e suco de abacaxi) e Cuba Libre (rum, refrigerante de Cola e limão) costumam custar 3 CUC, aproximadamente.

Para a fome de última hora, a principal – e muitas vezes única – opção disponível é o sanduíche de presunto e queijo (entre 2 CUC e 3 CUC).

Hospedagem
A principal forma de hospedagem é alugar quartos nas casas dos próprios cubanos. As residências autorizadas, chamadas de “casas de renta”, são de fácil identificação, pois possuem um selo oficial pregado na porta.

Guias de viagem costumam indicar algumas casas. Outra dica é procurar quem já foi e pegar indicações. Para quem chegar ao país sem nenhuma reserva, uma alternativa é pegar a indicação de estadia com taxistas. Contudo, deixar para a última hora pode não ser a opção mais econômica, é importante negociar bem os valores.

Os quartos costumam ser limpos (não espere a limpeza rigorosa de um hotel cinco estrelas) e podem ser compartilhados entre pessoas que viajam juntas. Eles costumam ter suíte, o que não significa que haverá água quente em todos, nem papel higiênico e sabonete com fartura.

O preço médio por noite é de 25 CUC. Algumas famílias incluem café da manhã no preço, outras podem cobrar cerca de 4 CUC a mais para oferecer a refeição, que costuma vir com frutas, suco, leite, café, pão e ovos. É possível pedir para as famílias prepararem as demais refeições do dia e combinar um preço (costuma ser de 6 CUC a 8 CUC).

A experiência costuma ser agradável. As famílias cubanas são educadas e atenciosas, gostam de conversar e contar como é a vida no país.

A ilha também oferece hotéis aos turistas, com preços que variam dos econômicos a cinco estrelas. Há albergues, mas não são tão comuns como as casas particulares.

Segurança e outras dicas
Cuba transmite a sensação de ser um país seguro até mesmo para quem anda sozinho pelas ruas – e a segurança é reforçada pelos cubanos o tempo todo. mas o ideal é não dar bandeira. É recomendado cuidar bem dos pertences e não andar com muito dinheiro na bolsa (que pode ficar trancado com cadeado na mala no local de hospedagem).

No caso de mulheres sozinhas, há um contratempo: até mesmo brasileiras acostumadas com os “xavecos” de homens pelas ruas podem se surpreender com o assédio dos cubanos. É impossível caminhar sem ouvir um “beautiful lady” ou “where are you from, lady?”, seguidamente. Aos homens, é comum a oferta de “moças” para prostituição.

É comum também os cubanos oferecerem serviços o tempo todo, principalmente de taxi. O viajante precisa ser um bom negociador, pois o primeiro preço ofertado acaba sendo reduzido após uma conversa.

Por conta da escassez de recursos na ilha, os cubanos também pedem sempre “regalos” (presentes, em espanhol) aos turistas, como sabonetes, xampus, roupas usadas ou qualquer moeda. Para quem se incomoda em dizer sempre não, o ideal é já andar com um “trocado” no bolso.

Gorjetas por qualquer tipo de serviço também são muito comuns, e o recomendado é ter alguma moeda no bolso para agradar alguém por carregar uma mala. Nos restaurantes, uma taxa de serviço de 10% costuma vir inclusa na conta em Havana, mas o usual é deixar a gorjeta com a quantidade que preferir.

Produtos básicos de higiene, como sabonetes e papel higiênico, não são comuns nos banheiros. Para se prevenir, tenha sempre um kit com papel higiênico, sabonete e álcool em gel na mochila.

Fonte: G1

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