As técnicas usadas para despoluir uma lagoa variam de acordo com seu tamanho e com o tipo de despejos irregulares que a poluem. Embora esse tipo de limpeza seja raro, no Brasil temos um exemplo que está dando muito certo. Trata-se da lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal do Rio de Janeiro. De 2006 para cá, uma série de medidas conjuntas entre o governo e a iniciativa privada fez o número de coliformes fecais que contaminavam a água cair de 16 mil para apenas mil a cada 100 mililitros – tornando a lagoa tecnicamente apropriada para banho. Estima-se que o custo total da despoluição, prevista para terminar em 2010, seja de 30 milhões de reais.
Consultoria – JOSÉ ANDREATA, BIÓLOGO DA UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA (RJ) E TÉCNICOS DO GRUPO EBX, PARCEIRO DA COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS (CEDAE) NAS OBRAS DE DESPOLUIÇÃO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS
Cenário olímpico
Em 2016, a lagoa Rodrigo de Freitas estará limpinha para receber provas de remo e canoagem na Olimpíada
SUJEIRA VERDE
O esgoto aumenta a oferta de nutrientes para duas espécies de alga que proliferam sem controle na lagoa: a Ruppia maritima e a Enteromorpha spp. Além de poluir visualmente, durante a noite as algas diminuem a oferta de oxigênio para os peixes e ainda despejam gás carbônico na água
ESGOTANDO O ESGOTO
Até 2001, havia quase 400 saídas de esgoto desembocando irregularmente. Situações lamentáveis, como a morte de milhares de peixes de uma só vez e o odor insuportável, obrigaram as autoridades a desviar o esgoto para uma rede de tratamento
NOJEIRA PROFUNDA
O espelho d’água já perdeu 40% da área original para os aterros que, muitas vezes, usaram terra retirada do fundo da lagoa. A dragagem irregular resultou em dois buracões com 9 metros de profundidade e, atualmente, cheios de dejetos exalando gases tóxicos
INSPEÇÃO ELETRÔNICA
Robôs com câmeras com zoom de 40 x, controlados por joystick, detectaram esgotos irregulares até outubro deste ano. Em dois meses, 60 quilômetros de galerias subterrâneas foram vistoriados, e agora há sensores instalados para detectar novos despejos ilegais
1. Galerias rasas são checadas pelo robô com rodas. Quando o volume de água é alto, a câmera flutua sobre uma prancha
2. Técnicos despejam corantes na suposta origem do esgoto e a câmera, lá embaixo, flagra se a água muda de cor
LIMPEZA PESADA
Um catamarã navega diariamente pela lagoa, com funcionários retirando algas e entulho da superfície – por mês, são recolhidas 65 toneladas. O barco suporta até 2 toneladas, e a alga retirada vai para um centro de tratamento, onde vira adubo
TAPA-BURACO
Uma nova dragagem deve tapar as crateras e nivelar a profundidade em 3 metros. Em vez de escavar e içar a terra de um lado para outro, fazendo a maior sujeira, dutos subaquáticos sugam a terra dos pontos mais rasos, separam o lixo, e despejam tudo nos buracos, já livres dos dejetos
NO LIMITE
Na fase mais poluída, no início dos anos 2000, a fauna da lagoa diminuiu consideravelmente. Com o processo de despoluição, animais marinhos, como camarão, passaram a procriar de novo e aves como os biguás, que curtem água limpa, voltaram a dar o ar da graça
MAR ABERTO
A ligação da lagoa com o mar ocorre por um canal que não tem largura suficiente para manter uma vazão que renove a água da lagoa com eficiência. A nova ligação deve rolar por meio de três dutos subterrâneos que aumentariam a vazão e facilitariam o fluxo de animais indo e vindo do mar
Entulho sinistro
Revirar o fundo de rios e lagos pode render tesouros dos mais inusitados
COFRES
O rio inglês Avon e o paulista Tietê quase viraram rios de dinheiro graças aos cofres – vazios, claro – encontrados em agosto
CARROS
O rio Merrimack, nos Estados Unidos, parece mais uma garagem. Em duas “pescarias”, nos anos de 2007 e 2009, fisgaram 33 carangos
ÁRVORE DE NATAL
Completinha, cheia de luzes, foi encontrada no rio canadense Cowichan, junto com um celular “pré-histórico”
REVÓLVER
O calibre .22, carregado, foi encontrada pelo catamarã que faz a limpeza diária da lagoa Rodrigo de Freitas, em setembro deste ano
TREM DE POUSO
A peça que libera e recolhe as rodas dos aviões estava no rio americano Spokane, em setembro.
Fonte: Mundo Estranho / Abril