Bayard Boiteux

Os pratos mais exóticos da gastronomia da América Latina

Resultantes da mescla de influências andinas e europeias, pratos com roedores, insetos e tripas figuram em cardápios da região

A diversidade cultural da América Latina gerou pratos milenares e exóticos que ainda hoje são consumidos nos países da região.

A variedade dessa gastronomia inclui até roedores, que são comuns na Cordilheira dos Andes e servidos até mesmo em hotéis cinco estrelas.

No México, uma larva de inseto da planta usada para fazer tequila é servida com guacamole. Na Argentina, Uruguai, Chile e em outros países da região, as tripas do bezerro ou da vaca fazem parte da “parrillada” – o churrasco -, mas raramente são pedidas pelos brasileiros nos restaurantes da vizinhança.

A influência andina, indígena e do império inca, mesclada com a influência da colonização espanhola e de imigrações como a asiática (caso do Peru, por exemplo), pode ser observada na mesa dos diferentes países latino-americanos.

Em muitos casos, são receitas de alto valor nutritivo, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

Conheça a seguir algumas da mais exóticas iguarias regionais:

CALDO DE CARDÁN, Bolívia e México

Popularmente conhecido na Bolívia como “sopa de pene de toro” (sopa de pênis de touro) por ser feito com o órgão do animal, o prato tem supostos poderes afrodisíacos, é conhecido em todo o país e costuma substituir o café da manhã.

Estima-se que sejam necessárias ao menos três horas para que a carne fique macia para ser consumida. A sopa conta ainda com ovo cozido, ervas e sal a gosto.

Segundo Jorge Luis Encinas, diretor da área cultural da embaixada da Bolívia em Buenos Aires, o caldo de cardán é visto tradicionalmente como “energizante” e “dá mais poder ao homem”. O prato existe desde os tempos da colonização espanhola e, no México, é chamado de “Machitos”.

CUY, Peru, Equador e Bolívia

Conhecido como cuy, o porquinho-da-índia é comumente encontrado na Cordilheira dos Andes.

“O cuy assado é servido nos dias de festas equatorianas ou, segundo a tradição, para que o homem peça uma mulher em casamento”, explica o setor Cultural e de Turismo da embaixada do Equador em Buenos Aires.

No Peru, o prato faz parte dos cardápios dos hotéis cinco estrelas da capital Lima, segundo Carito Castro, da embaixada peruana em Buenos Aires.

O roedor frito é servido desde os tempos do império inca e costuma ser acompanhado com batatas ao forno, por exemplo em Cusco, na região serrana, berço da cultura inca.

Mas os hotéis não o servem no espeto, como no interior do país, e sim ensopado ou assado com batatas. “É um prato saboroso comido por nossos ancestrais que continua presente na nossa mesa”, diz o chef peruano Anthony Vasquez Días, responsável pela cozinha de um restaurante peruano na capital argentina.

GUSANOS DE MAGUEY, México

É um prato milenar feito da larva da planta de agave e considerado um item sofisticado da cozinha mexicana, diz o especialista em gastronomia e diplomata mexicano Marco Antonio Perez Ruiz.

O gusano, conta ele, cresce na raiz e nas folhas da planta, que é uma espécie de cacto. É servido frito, por exemplo, no taco junto com guacamole.

A planta de agave ainda é a alma da tequila e de outras bebidas mexicanas, conta Perez Ruiz.

CHINCHULÍN, Argentina e Uruguai

A tripa feita com o intestino delgado do bezerro ou da vaca costuma ser servida no início do churrasco na Argentina, no Uruguai, no Chile e em outros países da América Latina, explicam churrasqueiros argentinos.

Churrasqueiros recomendam lavar bem para tirar o amargor e ferver a tripa em água e leite durante uma hora, para que fique macia.

Limão ou “salsa criolla” (molho vinagrete com tomate, cebola e pimentão picados) costumam ser usados para temperar o chinchulín na mesa.

Os chichulines, assim como a “morcilla” (linguiça de sangue, conhecida também no Rio Grande do Sul), raramente são provados pelos brasileiros de outras regiões do país que visitam Buenos Aires, segundo donos de restaurantes na cidade.

Não é uma sopa, mas uma espécie de torta salgada. O prato de raízes guaranis é consumido em todo o país. Para o chef paraguaio Rodolfo Angenscheidt, a “sopa” foi uma criação inesperada da culinária nacional.

“Diz a lenda que a sopa paraguaia, a única sólida do planeta, surgiu quando a cozinheira do Marechal Francisco Solano López (1827-1870; presidente do país vizinho durante a Guerra do Paraguai) colocou milho demais no caldo e o colocou no forno de barro”, diz ele. O próprio Solano López teria batizado o prato de “sopa paraguaia”.

Símbolo da culinária local, a “sopa” é feita com farinha de milho, ovos, cebola, gordura de porco, queijo do Paraguai e um pouco de sal. O queijo pode ser também de cabra do Chaco, gratinado.

FORMIGA ‘CULONA’, Colômbia

Tradição indígena que dura mais de 500 anos, segundo a imprensa local, ela é vendida em pacotes nas feiras livres do departamento (Estado) de Santander, na região andina do país.

O inseto é apontado como afrodisíaco. E costuma ser servido como “pasaboca” (lanche ou tira-gosto), principalmente nas casas ou em ocasiões especiais, conta a jornalista Karen Zuñiga, do jornal El Frente, de Santander.

O preparo inclui retirar as patas e asas, ferver as formigas e depois jogá-las na frigideira. Segundo estudo da Universidade Industrial de Santander (UIS), as formigas são saudáveis e contêm pouca gordura.

O jornal El Tiempo, de Bogotá, informa que as formigas “culonas” podem ser comparadas ao caviar europeu ou às trufas brancas da Itália.

Fonte: G1

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