A praça da Manjedoura, na cidade bíblica de Belém, na Cisjordânia, assistiu, no começo de dezembro, à inauguração da sua árvore de Natal iluminada, com direito a música e a fogos de artifício –como se fosse normal.
Mas essa é apenas mais uma tentativa da prefeitura de engatar o turismo religioso local, a primeira atividade econômica que murcha toda vez que se iniciam os enfrentamentos entre judeus e palestinos.
Lembrança de outros natais, ainda estão pendurados nos postes cartazes com o rosto de Yasser Arafat, o fundador e principal líder da Organização pela Libertação da Palestina, morto em 2004.
Aqui, a apenas 10 km de Jerusalém em linha reta (menos do que a distância que separa a praça da República do bairro do Tatuapé, em São Paulo), está localizada a gruta que teria assistido ao nascimento de Jesus. Sobre ela, o imperador romano Constantino mandou construir, em 326 d.C., a basílica da Natividade, considerada a mais antiga igreja da Terra Santa.
Apesar da importância do templo, nessa igreja entra-se quase agachado. A porta, por isso chamada “da humildade”, tem apenas 125 centímetros de altura. Foi feita assim para evitar a entrada de cavalos, burros e camelos.
O interior, iluminado por candelabros e pingentes de vidro colorido, que percorrem os altares como colares de contas, possui lindos e delicados mosaicos.
Mas não se vai até ali para ver essas belezas. Descendo um lance de escadas, chega-se a um nicho minúsculo, que acomoda uma pessoa por vez.
O chão de mármore branco manchado de vermelho (parece sangue derramado) é marcado por uma estrela de prata com quatorze pontas e uma inscrição: “Aqui, da Virgem Maria, nasceu Jesus”, em latim. O centro da estrela é furado, como se evocasse um parto telúrico.
Fiéis emocionados rezam a ave-maria enquanto beijam o centro da estrela.
O governo de Belém diz que, neste ano, pelo menos 1 milhão de turistas visitarão o santuário. É o que movimenta a economia do lugar.
BRASIL
Ao saber que sua cliente era uma brasileira, o guia abriu um sorriso e mostrou uma foto em seu celular. Era o ator global Tony Ramos, que lá esteve.
Na loja de esculturas em madeira de oliveira, uma especialidade do lugar, o vendedor agradeceu ao Brasil o apoio dado ao reconhecimento do Estado Palestino. Said Ashour lembra que, no ano passado, o presidente Lula, em visita a Israel, fez questão de pernoitar em Belém, uma clara manifestação de apoio à Autoridade Nacional Palestina, que controla a cidade.
O taxista que leva a reportagem até a cidade de Belém tem carro com placas amarelas israelenses.
Ele passa sem contratempos pelos postos de controle e pela barreira que Israel construiu entre a Cisjordânia e Jerusalém, uma impressionante muralha de concreto com oito metros de altura, bloqueando a entrada principal de Belém.
Fonte: Folha / Turismo