Bayard Boiteux

Ilha de Páscoa é local habitado mais isolado do mundo

No mapa do sistema de entretenimento do voo que partira há mais de duas horas do aeroporto de Lima, Peru, o desenho do pequeno avião na tela seguia cercado por milhões de pixels azuis. Apenas uma linha vermelha, com o trajeto já percorrido, cortava diagonalmente o monitor.

Distância para o destino: 1.850 km. Ainda. Não que o voo seja tão longo assim. Quatro horas e meia equivalem a um filme, uma refeição e um rápido cochilo. Mas a impressão que se tem é de estar indo para o lado errado…

Até lá, nem uma eventual ilha de “Lost”, nem Atlântida. Nada. Antes de tocar a pista do aeroporto de Mataveri, na ilha de Páscoa, a aeronave sobrevoa nada além da imensidão cerúlea do oceano Pacífico.

Sim, esse é o local habitado mais isolado do planeta. A 2.000 km daqui, os 67 “vizinhos” da ilha Pitcairn, famosa pelo motim no Bounty e o povoado mais perto, dão clara noção do isolamento.

Vértice sudeste do triângulo que forma a Polinésia (os outros dois são a Nova Zelândia e o Havaí), a ilha foi anexada pelo Chile há 124 anos e hoje é território especial ultramarino do país.

Rapa Nui, como a ilha é conhecida pelos habitantes, dista da costa sul-americana mais de 3.700 km, o equivalente a dez vezes a distância entre Fernando de Noronha e o litoral potiguar, e é o ponto de contato entre a colonização sul-americana e o mundo aquático da Oceania.

Com 163 km², Rapa Nui é menor que a Ilha Grande, na costa verde fluminense. A única estrada, em grande parte asfaltada, dá uma volta parcial na ilha em cerca de 46 km -ou menos de uma hora de carro sem parar.

Rapa Nui, nome que designa não somente a ilha, como também o povo e a língua locais, não é nem paradisíaca, como os diversos arquipélagos de atóis que salpicam a Polinésia, nem o safári darwinista das ilhas equatorianas a nordeste. É patrimônio da humanidade e um dos lugares mais intrigantes da Terra.

Mais do que os moais, as estátuas gigantes espalhadas pela paisagem vulcânica que dão fama à ilha, e os mistérios a eles associados, o que impressiona é a existência e a perseverança da comunidade em local tão remoto e com recursos naturais limitados.

E essa sensação de isolamento permeia a estada do viajante na ilha. Seus 5.000 habitantes, dois terços deles rapanuis, vivem quase todos no único povoado da ilha, a diminuta Hanga Roa, onde fica o aeroporto e que serve de base para turistas.

Há somente uma farmácia, um supermercado e dois pequenos postos médicos na ilha, e qualquer problema de saúde mais grave torna necessário acionar uma ambulância aérea para remover o paciente para hospitais melhor equipados em Santiago.

Há três escolas, uma delas ensina rapanui, mas curso superior inexiste, tem de ser feito no continente. Do lado de fora de uma das casas noturnas da vila, os frequentadores amarram os cavalos e vão para a noitada.

MUNDO CONECTADO

Todo esse isolamento, no entanto, não é empecilho para o mundo conectado do século 21. Quando da visita da Folha, a famigerada canção de Michel Teló parecia estar na cabeça e na ponta da língua dos rapanuis.

É curioso e revelador que a palavra pito na língua rapanui (parente do maori das Ilhas Cook) tenha dois significados que podem ser interpretados de forma antagônica: para eles, Te Pito O Te Henua, nome tido como o original da ilha, é “o umbigo do mundo”. Mas a frase poderia significar “o fim da terra”. No fim, é tudo questão de ponto de vista. Seja qual for o significado, vista de dentro ou de fora, a ilha exala magia.

Fonte: FOLHA Turismo

PEDRO CARRILHO
ENVIADO ESPECIAL À ILHA DE PÁSCOA

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