Bayard Boiteux

A cadência econômica do carnaval

Exemplos vêm do Rio, Salvador, Recife, Olinda e Angra dos Reis

Escolas de samba disputando os primeiros lugares em suas cidades; trios elétricos com artistas do primeiro time sobre eles e milhares de seguidores ao redor; bares lotados de foliões e seus copos sempre cheios; fantasias recheadas de cores e criatividade. Se esse texto for lido, não com um olhar entusiasta de quem defende o carnaval, e sim com perspectivas econômicas e turísticas, terá o mesmo peso.

Os números de algumas das grandes cidades promotoras da festa comprovam que uma vibrante cadeia produtiva pulsa sob os tamborins. O assunto é tão pertinente que até mesmo o economista e ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, se manifestou durante o seminário ‘Samba como economia da cultura’, realizado no Rio de Janeiro. “Não há como negar a relevância do Carnaval para a economia. Só as escolas do grupo especial do Rio geram mais empregos e renda do que muita empresa brasileira”. E ele tem motivos que sustentam sua tese.

Na capital baiana, a importância do carnaval para a economia é, relativamente, ainda maior. Quem afirma é o diretor da Salvador Turismo (Saltur), responsável pela organização da festa: “Se não fosse o carnaval e outras festas populares que atraem turistas, teríamos dificuldade de atender às nossas necessidades diárias. O carnaval é uma questão de sobrevivência para Salvador”. A Saltur estima que a festa girou R$ 1 bilhão em 2012. Foram cerca de 500 mil turistas e, para atender a esse fluxo, 17 mil pessoas trabalharam diretamente na festa.

No Rio de Janeiro, cada uma das escolas do grupo especial carioca previa investir este ano entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões para percorrer, em pouco mais de uma hora, a Passarela do Samba. São recursos destinados, de fornecedores de adereços e fantasias, fabricantes de isopor e tinta para os carros alegóricos.

E quem precisa, aproveita os dias de carnaval para ganhar uma renda extra. O vendedor ambulante Edmilson Silva (53), mora em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, mas desde a última sexta-feira (17) não volta para casa. “Fico acordado a noite toda, só cochilo durante o dia. Ele garante que vale a pena: “Só em um dia de carnaval consigo vender 1,2 mil latinhas de cerveja, fora a água”.

No Recife, já foi divulgado o balanço do período carnavalesco. O número de turistas superou as expectativas, com 710 mil visitantes contabilizados no período. Destes, 39% eram pernambucanos de outras cidades, 31% eram nordestinos, 24% vinham do resto do Brasil e 6% eram estrangeiros.

“No carnaval, Recife é visto como uma das capitais culturais do Brasil, o que é extremamente positivo para a cidade”, diz o secretário municipal de Cultura, Renato Lins. A rede hoteleira da capital ficou 95% ocupada. E a média do tempo de hospedagem foi de 11 dias.

O prefeito do Recife, João da Costa, afirmou que foram gerados R$ 595 milhões durante o Carnaval de 2012, 15% a mais que no ano passado. Ele também afirmou que os aumentos na economia e na estadia ocorreram porque a estrutura de limpeza, transporte e segurança foi maior neste ano.

Na vizinha Olinda, aproximadamente 2,1 milhões de foliões circularam pelas ladeiras do Sítio Histórico. Desses, 70 mil eram turistas, 15% a mais do que no passado. A festa contou com investimentos da ordem de R$ 8 milhões, dos quais R$ 6,4 mi foram da iniciativa privada.

De acordo com a Secretaria de Turismo municipal, 95% dos leitos da rede hoteleira foram ocupados. “Acredito que o aumento tenha se dado por vários motivos: facilidade no transporte, programação atrativa, a rede de serviços, a tranquilidade e a beleza que Olinda oferece”, afirmou o secretário, Maurício Galvão.

No litoral fluminense, Angra dos Reis se destaca como promotora de carnaval. Segundo a Fundação de Turismo (TurisAngra), cerca de 250 mil turistas e veranistas passaram pelo município, de sexta a terça-feira. “Os números superaram as expectativas. Com a cidade lotada, supermercados e padarias tinham filas e mais filas. Pela primeira vez, em 39 anos, vi faltar gelo na cidade. Por mais que o comércio esteja esperando o movimento, chega em uma determinada hora que o estoque não dá vazão”, disse a diretora executiva da TurisAngra, Cristiane Brasil.

Segundo ela, isso mostra o quanto Angra vem se desenvolvendo no turismo: A cada ano estamos melhorando nosso turismo. Angra continua com belezas naturais incríveis. Somos um dos 65 destinos turísticos do Brasil; a Ilha Grande está nas maravilhas do Estado; e temos muito mais para oferecer aos turistas de todo o mundo”.

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