São 32 roteiros turísticos espalhados por 11 estados brasileiros
Brasília (DF) – Engana-se quem pensa que é preciso estar na Europa para viajar sobre os trilhos. O Brasil tem hoje 32 trens turísticos em operação, espalhados por 11 estados das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Os passeios proporcionam uma viagem por entre a História do Brasil – regada a cultura, paisagens e muito charme.
Circulando por uma malha ferroviária de 30 mil km, os trens brasileiros atendem aos mais diferentes gostos – e bolsos. A viagem pode levar apenas alguns minutos ou durar 12 horas, dependendo do destino. Pode percorrer apenas um ponto turístico ou cruzar de um estado a outro. Pode ser em vagões simples ou esbanjando luxo. Pode ser uma viagem tranquila ou embalada por música e apresentações culturais. Seja como for, viajar de trem hoje é uma oportunidade única de ver o Brasil pela janela.
Entre os mais populares está o Trem do Corcovado, no Rio de Janeiro, que recebe anualmente mais de um milhão de passageiros.
Em São Paulo, a Estrada de Ferro Campos do Jordão leva o viajante a um romântico passeio entre as cidades de Campos do Jordão e Santo Antônio, num trajeto de 2h30 – que percorre a Serra da Mantiqueira, com paradas como a do Aldo do Legado, o ponto ferroviário mais alto do Brasil, com 1.743m de altitude.
No Paraná, o Trem de Luxo, tão luxuoso quanto o nome, reconstitui o glamour e charme da época de ouro das viagens de trem, unindo decoração temática e belas paisagens.
Em Minas Gerais, os trilhos alcançam um universo que mistura história, cultura e arte, a bordo da famosa e charmosa Maria Fumaça. O trecho entre São João Del Rey e Tiradentes, por exemplo, é feito com guia e passa por diversos pontos turísticos, como a Serra de São José, conhecida também como Serra de Tiradentes, pela Mata Atlântica, Fazenda Centenária e Rio das Mortes. A rota Belo Horizonte a Vitória, no Espírito Santo, é também uma opção diferente e divertida de viajar.
Na região Sul, um mergulho pela tradição gaúcha é o que promete o passeio na Maria Fumaça, que liga as regiões de Bento Gonçalves e Carlos Barbosa. A locomotiva realiza shows e apresentações de teatro durante o percurso. Outros eventos culturais completam a programação nas plataformas, durante as paradas.
Saindo do Sul para o Nordeste, há 22 anos o Trem do Forró agita os turistas durante as festas juninas no percurso entre Recife e Caruaru. Em cada um dos 10 vagões, um grupo diferente de forro pé-de-serra agita os viajantes, durante trajeto de cinco horas regado a muita dança. O trem chega a carregar mil pessoas a cada viagem.
CRESCIMENTO
Mesmo ainda distantes das opções prioritárias de roteiros turísticos, o transporte ferroviário tem registrado amplo crescimento nos últimos anos. Somente em 2011, mais de cinco milhões de passageiros escolheram os trens como meio de transporte, volume 33% maior que o do ano anterior. E a meta para o futuro é ambiciosa, segundo o presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos Culturais (ABOTTC), Sávio Neves: “O setor ferroviário vem aos poucos ocupando um espaço importante no mercado interno do turismo. É um trabalho lento e que demanda grandes investimentos. No entanto, com os trens que estão pra entrar em operação e o esforço que o setor pretende fazer para melhorar sua performance temos condições de chegar a 2016 com a marca de 10 milhões de passageiro por ano”.
Desde 2010, o Ministério do Turismo coordena um Grupo de Trabalho de Turismo Ferroviário que tem como missão desenvolver políticas de fomento ao turismo ferroviário no país. Para este ano, a prioridade é definir os projetos de trens que serão implementados nos próximos meses – há mais de 50 propostas de prefeituras e entidades privadas em análise.
Integram o GT, além do MTur, representantes do Ministério dos Transportes, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e da Secretaria de Patrimônio da União, além de empresários do setor.
A expectativa do GT é colocar novos trens nos trilhos este ano, aumentando a oferta de atrativos turísticos nas diversas regiões do País. “Vamos definir quais projetos poderão ser desenvolvidos mediante concessão de bens móveis (vagões, mobiliários) e imóveis (estações) da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e aporte de recursos públicos”, explicou o diretor do MTur e coordenador do GT, Ricardo Moesch.
Na pauta do GT para 2012, está ainda uma inovação para o mercado turístico brasileiro: a possibilidade de criação de cruzeiros ferroviários, como já acontece com os navios, com paradas estratégicas em pontos turísticos.
DE OLHO NA COPA
O Ministério do Turismo espera receber 600 mil turistas estrangeiros durante a Copa do Mundo 2014. Além disso, outros 300 mil brasileiros vão circular pelas cidades-sede no período dos jogos. De olho nesse enorme contingente de passageiros, empresários do setor e do governo correm atrás das oportunidades para impulsionar o segmento, aumentar o número de trens em circulação e modernizar as operações atuais.
Como as operações ferroviárias estão fora dos grandes centros, os trens representam grandes oportunidades de se interiorizar o turismo no Brasil. “São ótimas opções para os turistas conhecerem o país, entre um jogo e outro”, destaca Sávio Neves.
Para colocar os turistas nos vagões durante a Copa, a ABOTTC aposta numa estratégia robusta de articulação junto a operadoras de turismo, de forma a inserir os roteiros ferroviários nas prateleiras dos viajantes. Com esse esforço, espera-se ainda mudar o paradigma do modelo de transporte do Brasil, que não contempla o ferroviário. “Além de um amplo esforço de comunicação e marketing, precisamos alertar dirigentes e sociedade civil para a oportunidade de negócios do nosso setor”, reforça.
Pra garantir sucesso nas oportunidades criadas na Copa e das Olimpíadas, o setor ferroviário trabalha para se conhecer mais. Uma parceria entre o Sebrae e a ABOTTC resultou recentemente no estudo ‘Trem é Turismo’, um diagnóstico dos principais desafios e competências essenciais para o bom desempenho de 24 operadoras de trens turísticos e culturais, visando o aumento da competitividade do segmento. Após uma análise minuciosa em nove áreas diferentes – economia, estratégia, inovação, marketing, vendas, atendimento, pessoal, associativismo e sustentabilidade – o documento aponta recomendações preciosas, como a adoção de programas de capacitação de pessoal, de práticas de inovação, de aprimoramentos técnico-comerciais, de gestão e de planejamentos estratégicos, por exemplo.
Fonte: MTur