Há muitas e distintas formas de se fazer conhecer Elche, localizada ao sul da Comunidade Valenciana, na Espanha, ainda que nenhuma seja mais bonita que estes versos: “cada uma das palmeiras/ disputa a solidão suprema dos ventos,/ a delicada glória da fruta/ e a supremacia da elegância dos movimentos/ na mais venturosa geografia”; escritos pelo poeta Miguel Hernández, um dos grandes nomes da literatura hispânica, filho ilustre da cidade e cujo centenário de nascimento se celebra nesse ano de 2010.
Poesia que se converte em boas-vindas ao turista que a visita ao estar diante das mais de 300 mil palmeiras ululantes de seu Palmeiral Histórico, reconhecido pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Um mar de folhas verdes que, entre o nascer e o morrer, sombreia o centro antigo do povoado há mais de oito mil anos. “A descoberta de tâmaras fossilizadas na zona do Mediterrâneo confirma a teoria de que as palmeiras estão presentes em Elche desde os tempos pré-históricos”, conta a secretária municipal de cultura e comunicação, Àngels Candela Plaza.
Em todo caso, foram os árabes que deram às palmeiras de Elche a sua configuração final, sob a forma de jardins, criando uma paisagem que é indissociável às origens históricas da cidade, que remonta ao ano 5000 a.C., no período Neolítico. Há também vestígios da Idade do Bronze e, especialmente, sítios arqueológicos de cultura ibérica, cujo esplendor se deu no século IV a.C., época de que se data a famosa escultura da Dama de Elche, que se exibe no Museu Arqueológico Nacional de Madrid, ainda que os ilicitanos protestem ferozmente o seu retorno à casa. (ver box)
Segundo o diretor do Museu Arqueológico e Histórico de Elche (MAHE), Rafael Ramos, o processo histórico da cidade ainda envolve a conquista pelos romanos no século I a.C., quando ganhou o título de Colonia Iulia Augusta Ilice, que significava um reconhecimento do poder de auto-suficiência em relação a Roma, e também a fortificação da cidade pelo povo Al-Andalus entre os séculos VIII e IX até sua reconquista para os cristãos em 1265, época da qual datam o Palácio de Altamira, castelo resguardado pelo Palmeiral que hoje abriga a sede do MAHE, e a imponente Basílica de Santa Maria.
Moderninade
Apesar da imponência de seu passado, Elche hoje não sobrevive apenas de histórias. Atualmente, ostenta o título de capital espanhola do calçado, principal fonte de ingressos econômicos da cidade, com mais de dois mil pontos de produção e venda. “Temos mais de 1.100 empresas, representando 42% das existentes em toda a Espanha, onde trabalham mais de 18.000 funcionários qualificados”, conta a secretária de comunicação, que também lembra que a atividade turística está em segundo lugar no ranking econômico. “Estamos investindo para que sejamos um polo do turismo de negócios”.
No entanto, nem tudo é dinheiro. Cidade distante 15 quilômetros do mar, Elche tem jurisdição sobre Arenales del Sol e Carabassí, duas das melhores praias da Costa Blanca, a riviera espanhola, um dos destinos preferidos dos ingleses no verão europeu. Além de oferece um variada gama de atrações de veraneio, como bares e lounges à beira-mar, o turista que quer se aventurar também encontra opções de lazer como escolas de esportes náuticos, com destaques para o kitesurf, o windsurf e vela, numa paisagem que se divide entre a área natural das dunas protegida pelas leis locais de meio ambiente, a água azul do Mediterrâneo e a vista ao longe da Ilha de Tabarca.
Para os que gostam de vida noturna, Elche tem uma variedade de bares voltados para todos os tipos de público, além de discotecas situadas no parque industrial da cidade. “Além dos festivais que a cidade recebe, como os de Verão, de Cinema Independente e o Medieval”, recorda Àngels, para quem pergunto: deixando de lado a função política que representa, o que a senhora diria a um brasileiro que pensa em viajar para que se decida pela visita à Elche?
“Tenho a impressão de que o Brasil também deve ser muito bonito e cheio de palmeiras e praias preciosas, como Elche, mas eu diria ao turista brasileiro que aqui o vento sopra como em nenhum outro lugar, tudo soa diferente”, diz ela, enquanto me recordo, em sentido contrário, de outros versos, dessa vez do poeta brasileiro Gonçalves Dias, quando escreveu que “as aves que aqui gorjeiam,/ não gorjeiam como lá”. Só conhecendo ambos os lugares para saber que é verdade (sem desmerecer nenhum dos dois lugares).
INFORMAÇÕES E SERVIÇOS
Elche está no sudeste espanhol e integra a Comunidade Valenciana. Está a 20km de Alicante, 174 km de Valência, a 409 km de Madrid e a 531 km de Barcelona.
Para chegar de trem
Elche está localizada em um centro da linha de “cercanías” cuja ligação se dá entre Alicante e Murcia, que tem uma alta freqüência de viagens para conexão fácil a qualquer ponto da geografia espanhola. A ferrovia, que atravessa a cidade através de um caminho subterrâneo, tem duas estações na cidade, e uma estação de passagem na aldeia de Torrellano.
Com o projeto de construção do futuro trecho de alta velocidade entre Madrid-Alicante, também se contempla a existência de uma parada em Elche, reforçando assim a comunicação com a cidade.
A cidade está a 4h30 de Madrid e 5h30 de Barcelona, com preços médios de 55€ e 65€ a passagem, respectivamente. No entanto, pode-se chegar à cidade desde qualquer ponto da Espanha por meio a rede nacional de ferrovias, sempre tendo Alicante como destino principal para depois fazer a transferência rumo a Elche. Mais informações:
RENFE-Elche: (+34) 965 456 254
www.renfe.es
Onde ficar:
Huerto del Cura
Porta de la Morera, 14, 03203 Elche
Tel +34 966 61 00 11
www.huertodelcura.com
Tryp Ciudad de Elche
Avda. Juan Carlos I , 5, 03203 Elche
Tel +34 966 61 00 33
www.trypciudaddeelche.solmelia.com
Onde Comer
O prato típico de Elche é o Arroz con Costra, feito com coelho, frango, embutidos e espécies locais.
Mesón El Granaino
Jose Mª Buch, 40, 03201 Elche
Tel +34 966 66 40 80
mesongranaino.com
Dátil de Oro
Parc Municipal, s/n, 03202 Elche
Tel +34 965 45 34 15
El Pernil
Juan Ramón Jiménez, 4, 03203 Elche
Tel +34 966 613 303
Fonte: UOL Turismo