Bayard Boiteux

Pacificado, o Vidigal vira cenário para o turismo

Estrangeiros só visualizam o que é uma favela por meio de cenas de filmes e a imaginam como um labirinto de becos onde crianças crescem com as ambições de Zé Pequeno -personagem do longa “Cidade de Deus” (2002), interpretado por Leandro Firmino da Hora. Vistas assim, as comunidades cariocas tinham a troca de tiros como trilha sonora, e o visitante era afastado sem conversa.

Talvez por isso, quando um gringo chega ao Vidigal, que tem aos pés a avenida Niemeyer, no Rio, é invadido por uma inconfessável decepção ao comprovar que, agora, os fuzis são só visíveis nas mãos da polícia, e que a trepidante ação mostrada no filme de Fernando Meirelles acabou.

No entanto, esse é o novo cenário em algumas comunidades do Rio. Além de inspirar novos filmes, ele permite ao cidadão alheio a essa realidade sentir-se, de algum jeito, parte da favela, e possibilita a participação nesse universo como figurante.

No caso, o roteiro pelo Vidigal é uma aventura que inclui vista para o mar, praia e vizinhos que abrirão as portas das suas casas quando superado o receio inicial.

O Vidigal, pacificado há quase um ano, virou uma alternativa para os estrangeiros com vontade de curtir a vida carioca fora dos percursos turísticos habituais.

A oferta é válida para os turistas brasileiros, especialmente para os que nunca botaram os pés num morro.

A favela, a três quilômetros do bairro nobre do Leblon, na zona sul carioca, esconde a trilha que leva ao morro Dois Irmãos, abriga festas e oferece infinitas lajes em que é possível deitar e contemplar a lua sobre o oceano com uma cerveja na mão.

Ali há um transporte público que visitantes devem conhecer. Ligando a av. Niemeyer ao alto da comunidade, os motoqueiros têm papel essencial na vida desse bairro encravado numa ladeira.

Mas os motoqueiros também geram receios entre os vizinhos. Recentemente, o preço da carona subiu -e é nas filas do final do dia que se percebe a dificuldade dessa relação. Hoje, a subida nas motos custa R$ 2,50; já a descida sai por R$ 1,50. “Ficamos na vontade dos mototáxis”, reclama uma moradora.

O que o turista deve saber é que é provável que tentem cobrar mais dele do que os moradores pagam. Da simpatia e habilidade depende o sucesso da negociação. Pechinche para não pagar mais de R$ 5 por trajeto.

No mais, o passeio serve tanto para chegar ao começo da trilha dos Dois Irmãos como para descobrir os cenários e as pessoas do Vidigal.

Cai a noite, as luzes pintam de amarelo a atmosfera, e a subida veloz, rotineira para moradores, se torna uma aventura para o visitante. Não esqueça de colocar o capacete. Dica de gringa.

Fonte: FOLHA Turismo

Deixe um comentário