Bayard Do Coutto Boiteux
O Carnaval é uma das expressões da alegria de nosso povo.Em alguns dias,consegue,dentro de tradições trazidas da Europa criar um clima de festa exuberante,onde as pessoas mais liberadas conseguem uma vibração diferente,de interação e de “joie de vivre”,termo francês que externa a alegria intrínseca do individuo.Tenho acompanhado há pelo menos 20 anos sua evolução e vejo,com satisfação um resgate dos blocos em alguns Estados,nomeadamente no Rio,a proliferação de sambódromos como forma de sistematizar as apresentações das agremiações e ate uma Cidade do Samba,onde se consegue juntar as escolas e promover culturalmente as diversas fases de um desfile.O Carnaval também passa por uma grande profissionalização,na gestão das agremiações e na busca de patrocinadores,para a sobrevivência,já que parte dos antigos messias tiveram que se afastar por motivos de força maior.Há eventuais controvérsias nos patrocínios mas é bom sempre lembrar que o envolvimento da comunidade,que é o mais importante na festa demanda recursos para custear fantasias.Não concordo muito com as alas quase unicamente formadas por turistas,mas pressuponho que se treinados e não apenas presentes no dia dos desfiles, podem mostrar uma faceta do turismo de troca de experiência com os nativos.
O Carnaval não é um evento barato,nem para os que nos visitam,nem para os que cuidam de sua organização.No entanto,os preços deixam a desejar ,sobretudo na prestação de serviço.Alegar que é uma experiência única não é suficiente,até porque para um turista estrangeiro,após a terceira escola,tudo se torna igual,já que não tem como entender a riqueza dos enredos.Talvez,a arquibancada e cadeiras voltadas para turistas pudessem ter um rodízio.Alem de baratear o custo unitário,impediriam alguns clarões em alguns momentos.É uma lição de casa para o receptivo local e as autoridades constituídas,inclusive a LIESA.
É bom lembrar que o carnaval acaba gerando indiretamente mais de 45 000 empregos,alguns sazonais e envolve inúmeros prestadores de serviços,que cuidam desde as fantasias,limpeza,segurança,carros alegóricos,bandas,música,etc.Sinto muita falta dos bailes populares ,que poderiam acontecer em locais com um número menor de blocos,como as zonas norte e sul.O baile cria um grande encontro de aspirações festivas,com fantasias e mistura de anseios diferentes para construir um momento de entretenimento:dançar,beijar,ficar,olhar,sentir ou simplesmente constatar que a música faz parte de nossa vida e que requebrar é o ponto chave de nossa expansão afeiva.
Temos também que buscar o aprimoramento da imagem da festa:muitas vezes considerada como um local de pegação.A pegação pode acontecer em qualquer local ou evento mas não
pode ser um produto de consumo da promoção.Acaba sendo confundida com o turismo sexual ou uma nudez permissiva.Seria bom a Embratur pensar seriamente em tal conotação e mudar a apresentação da festa,sempre que a divulgar.
Que rufem os tambores da alegria e que embebedem de ternura,por alguns dias,uma população sofrida mas otimista.Um povo que dança e que sabe que vai trabalhar no outro dia.Que cai no samba da vida,do amor e da sobrevivência.Que nossas tristezas sejam cobertas de novas conquistas,de que o Carnaval é lazer de todos e não de uma minoria,que se esconde em camarotes ….
Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário,escritor, consultor e preside o site Consultoria em Turismo.
(www.bayardboiteux.com.br)