O imenso veleiro que atravessa silencioso as águas do Nilo, no Egito, se chama Meroe, e é uma “dahabiyya”. Esse é o nome da embarcação típica do século 19, movida a vento, que exibe as margens verdes do rio estreito e das montanhas douradas do deserto como um filme lento.
O Nilo é o maior rio do mundo, tem mais de 7 mil quilômetros de comprimento, fica no nordeste da África e passa por dez países. A nascente é na altura da linha do Equador, em Ruanda, e ele desemboca no mar Mediterrâneo.
O cruzeiro de “dahabiyya” é completamente diferente da viagem dos navios tradicionais, velozes e fumacentos, com centenas de turistas em ambientes de ar-condicionado e televisão. A “dahabiyya” não tem pressa nenhuma. A bordo dela, é possível fazer paradas surpresas em praias desertas e passar a noite em locações exclusivas, longe de qualquer barulho que não seja o das estrelas. A rotina se divide entre velejar, visitar templos milenares à beira do Nilo, degustar refeições preparadas com ingredientes frescos de fornecedores ao longo do rio, observar o balé da tripulação montando e desmontando as velas e, principalmente, fazer nada.
Se o vento para de soprar, um barquinho a motor aparece e reboca o veleiro. O Meroe, das fotos ao lado, é a vedete do Nilo, um grande veleiro com 50 metros de proa a popa, sete de largura e dez cabines, duas delas suítes panorâmicas, na popa, a poucos centímetros da água.
São cinco noites de viagem -sempre de segunda a sábado. O barco parte da cidade de Esna, a 64 quilômetros ao sul de Luxor e vai até Assuã, a cidadezinha onde Agatha Christie escreveu seu clássico “Morte no Nilo” (1937).
EM TERRA FIRME
Antes de subir a bordo, uma volta a pé por Esna, cidade normalmente pouco visitada por turistas -ótima chance de percorrer um mercado de rua genuíno.
Ao final da caminhada, surge o templo de Khnum, nove metros abaixo do nível da rua, enterrado por 15 séculos de areia. O que se vê foi escavado em 1840, mas ainda há muita coisa coberta. Com cabeça de carneiro, Khnum é um dos deuses mais antigos do Egito -coube a ele modelar a humanidade com a argila do Nilo.
As colunas do templo impressionam, mas por pouco tempo -no dia seguinte, prepare-se para Edfu, cidade onde está o templo de Horus, o deus-falcão, um dos mais bem preservados do país (o portal de 36 metros de altura com duas estátuas de granito de falcão é impactante). Começou a ser construído em 237 a.C. e ficou pronto 180 anos depois.
Os outros três dias trazem passatempos como caminhar no deserto, se adiantar com o barquinho a motor, pular no Nilo e nadar a favor da correnteza até o veleiro e visitar lugares como Gebel Silsila (ponto estreito do rio onde eram cortadas as pedras usadas nos templos) e o templo de Kom Ombo (dedicado a dois deuses, chamados
Haroeris e Sobek).
No final da viagem, em Assuã, o melhor é conhecer o templo de Isis (deusa do amor e da magia), na ilha de Philae, e investir pelo menos um pôr do sol no passeio em um pequeno barco a vela chamado “felucca”. Voltar a velejar no Nilo é sentir na pele, de novo, a mesma brisa que move as “dahabiyyas”. Isso dá saudades.
Fonte: FOLHA Turismo