Uma nova invasão da Baía dos Porcos é esperada para breve. Cinco décadas depois da rocambolesca tentativa armada de derrubar o governo de Fidel Castro, agora são esperados turistas em busca dos encantos do conjunto de praias escolhido pela CIA (a agência de espionagem americana) para a frustrada invasão, em abril de 1961.
Banhada pelo mar do Caribe, encravada no centro do Grande Parque Natural de Montemar, a “Bahía de Cochinos” (como é chamada em espanhol) é um santuário ecológico cheio de história e de praias desertas onde se localizam os melhores pontos de mergulho da ilha.
O anúncio do reatamento de relações diplomáticas entre os Estados Unidos de Barack Obama e a Cuba de Fidel e Raúl Castro, sob a mediação do papa Francisco, deixou meio mundo de queixo caído. Embora fracassado, o embargo econômico e político ainda tem muito apoio entre os conservadores americanos e parecia eterno.
A Baía dos Porcos é o cenário por trás da história: a causa do rompimento de relações foi exatamente a invasão por mar organizada por órgão do governo americano, frustrada pela resistência em terra liderada pessoalmente por Fidel Castro. Ela começou em 17 de abril de 1961 e terminou dois dias depois com a prisão de todos os invasores.
A baía está localizada no sul da ilha, formada por três praias: Maceo, Larga e Girón. Foi nesta última que ocorreu o desembarque das forças que atacaram a área. Por isso o episódio é conhecido em Cuba como “a batalha de Girón”.
Em poucas horas de avanço a pé, os invasores encontraram a resistência do exército cubano e, sem receber reforços ou apoio, foram derrotados e presos. Julgados, acabaram trocados dois anos depois por remédios e equipamentos médicos.
Hoje, muitas das lindas paisagens são decoradas por cartazes de propaganda política: uns exaltam a participação de Fidel no comando do contra-ataque, outros marcam locais dos combates.
A baía e o parque Montemar ficam localizados em uma região do sul de Cuba chamada Península da Zapata, que desde os tempos coloniais atraiu pouca ocupação, o que acentuou sua vocação para área de preservação. Há muitas atrações de turismo ecológico, observação de espécies.
A estrutura hoteleira é parca e simples. Há uma opção exótica mas muito especial: a vila de Guamá, um resort com uns poucos chalés construídos como casas dos indígenas que habitavam a região, sobre ilhas localizadas dentro de uma lagoa (Laguna del Tesoro, na praia Larga). Só se chega ao local de lancha.
Além desse, todas as opções de hospedagem são pequenas pousadas ou pensões. Com essa pouca infraestrutura, as praias da baía dos Porcos estão a cerca de três horas de carro de Havana, a capital, no norte de Cuba. Por isso, os turistas normalmente fazem a travessia da ilha, passam algumas horas do dia e voltam no final da tarde para a capital.
Decretada patrimônio histórico mundial pela Unesco, a capital cubana tem recebido investimentos para recuperação de prédios de seu centro histórico, o que faz surgirem novos hotéis baratos em prédios históricos.
A mesma distância separa a baía de Varadero, o principal resort de praias da ilha, também localizado em sua face norte (Atlântico), repleto de hotéis de redes internacionais.
Cuba é uma ilha fina e comprida, banhada ao norte pelo Atlântico e ao sul pelo Caribe. Os dois litorais têm climas diferentes. No inverno, quando as frentes frias polares descem pela costa leste dos Estados Unidos gelando de Nova York a Miami, as praias do norte cubano ficam com más condições de banho. Nesse momento, muitos viajantes buscam o sul da ilha, frequentemente com clima completamente diferente, em um mesmo dia e poucos quilômetros de distância.
Além de praias de mar azul, com ótimas condições para mergulho ("buceo", em espanhol), a península de Zapata e a baía dos Porcos são cheias de passeios de caráter ecológico: Santo Tomás, Laguna de las Salinas, Laguna del Tesoro e Cueva de los Peces, são alguns desses lugares.
De todos, o mais raro é o Criadero de Cocodrilos (trocando letras de lugar, vê-se que é um criadouro de crocodilos). Inaugurado em 1962, ele se destina a garantir a proliferação do animal que estava ameaçado. Hoje, tem tantos bichos que o lugar vende carne em mercados.
Esse comércio certificado de uma carne que normalmente os estrangeiros não estão acostumados a comer se tornou uma atração gastronômica para quem visita a baía dos Porcos: restaurantes servem carne de jacaré, em um cardápio dominado por peixes e camarões frescos da região.
Cinco décadas depois da invasão de exilados cubanos e mercenários, o anúncio do reatamento de relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos culmina uma abertura que de fato já avançou muito nos últimos anos.
Hoje, aviões de turistas americanos descem no aeroporto de Varadero, como não é raro encontrar cubanos contando de viagens recentes aos Estados Unidos; produtos "made in USA" podem ser comprados em qualquer canto, embora a preços muito caros para os nativos. E mesmo os grandes carros importados antes do embargo, que se tornaram típicos da cena cubana, hoje convivem com automóveis contemporâneos produzidos em outros países, que não boicotam o comércio com Cuba.
Mas a baía dos Porcos, por ser parte de um parque nacional, mantém-se como um lindo destino turístico deserto como uma praia baiana dos anos 1960. Goste ou não, a perspectiva é que logo se encham de invasores, agora pacíficos.
Fonte: Folha Turismo