Sempre que deixo o confinamento para um passeio semanal tento buscar uma experiência que me traga prazer, mas que seja uma descoberta e que me permita vislumbrar esperança e luta contínua. Foi justamente o que aconteceu quando visitei o Museu do Artesanato, em Petrópolis, na semana passada. Nunca imaginei a riqueza de um espaço cultural, construído através do coletivo e do afeto. É um exemplo de solidariedade na Arte e na forma de valorizar cada talento, muitas vezes esquecido por falta de visão do outro e preconceito com o fazer alheio .
Me senti dentro de um templo da diversidade, em que cada peça tinha uma história, carregada não só de emoção mas de convicção de que o mundo é plural e que somos um conjunto de aptidões que se completam. É uma Casa de Cultura que está em constante construção, apoiada em pilares de que juntos somos sempre mais fortes e que cada um pode e deve colaborar com a riqueza e beleza do fazer.
Vi nos olhos azuis de Cocco Barçante uma humildade dos sábios e uma criatividade constante que pode ser percebida em cada novo momento criado para homenagear o artesanato. Foram muitas atividades na presente semana como visita virtual, sarau e uma loja virtual para comercialização dos produtos dos diversos atores que ali se fazem eternizar.
Ele e sua curadora Glória Correia, uma pedagoga aposentada que vive a intensidade do pensar e pesquisar um Brasil diferente, bem longe de ideias retrógradas que hoje maculam nossa trajetória de aceitação do outro. Cocco e Glória preconizam e se transformam em símbolos de uma luta pela igualdade de direitos e defesa dos mais vulneráveis. Me deram uma aula de Cidadania .
Devo confessar que subir a serra, numa manhã ensolarada, cheia de verde, visitar minha amiga Neyse e avistar o Quitandinha de longe me fizeram lembrar de minha infância e adolescência na bonita casa da Ipiranga, de meus tios Ana Maria e Colbert, onde passei férias e participei de eventos. É uma Petrópolis cheia de encantos e evoluções turísticas que encontramos hoje.
Foi um momento ímpar de minha vida ser recebido com generosidade mas firmeza de propósitos e entender que o museu é o espaço do devir
Foi o momento propício para fazer várias reflexões sobre o turismólogo, que tem nas inúmeras disciplinas que estuda a possibilidade de fazer revoluções no turismo, de pensar soluções e de se apropriar de todo o potencial de cada localidade e transformar em produto. Como o artesão, ainda não teve o devido reconhecimento mas continua prosseguindo sua caminhada de descobertas.
Foi um momento ímpar de minha vida ser recebido com generosidade mas firmeza de propósitos e entender que o museu é o espaço do devir, da ética e do respeito ao diferente e desconhecido, repleto de reflexões de aceitação.
A visita gerou uma sintonia de propósitos com a vida e agora vou iniciar um processo de revisitar as obras de Cocco com meus textos, à convite dele para uma obra que vai publicar num futuro próximo. Senti-me prestigiado por poder integrar com a palavra, além de minhas colagens, um espaço que ganhou meu respeito e admiração.
Viva a Casa de Cultura do Cocco, onde a Arte colaborativa está presente e caminha a passos largos para um encontro de artesãos, que dividem o espaço com ele e contribuem para um mundo melhor, que pensa e que produz .
Bayard Do Coutto Boiteux