O francês Jérémy Marie acaba de completar uma proeza: viajou para 71 países sem gastar um tostão com meios de transporte.
Durante cinco anos e meio, ele se deslocou pelos cinco continentes dependendo apenas da boa vontade de estranhos. Todo o trajeto, de mais de 161 mil quilômetros, foi feito pegando carona.
E não só com motoristas de carros. Ele também viajou gratuitamente de trem, moto, caminhão, trator, navio de carga, barco a vela, lancha e até no lombo de um burro. “Peguei carona praticamente em tudo o que se move”, disse ele ao G1.
Foram 1.752 veículos, no total. O maior desafio foi conseguir carona em um avião, da Austrália para a Indonésia. Jérémy conta que enviou centenas de e-mails para companhias aéreas e obteve apenas uma resposta – felizmente, positiva. O diretor da Air Asia concordou em dar a ele um bilhete gratuito para ir de Darwin a Bali.
O Tour du Monde en Autostop (Volta ao Mundo de Carona) começou em 2007 e terminou em 12 de março deste ano, dia do seu aniversário de 29 anos.
Jérémy, que já havia feito uma viagem anteriormente pela Europa de carona, ressalta que viajar dessa forma não é falta de alternativa, mas uma escolha consciente.
“Pegar carona torna possível ter contato com a população local. E é um filtro natural que atrai as pessoas abertas ao contato, à troca, ao aprendizado”, afirma. Ele ressalta também a liberdade de ir e vir sem depender de reservas de passagens.
Os melhores e piores lugares
Quando começou sua jornada, o francês imaginava que quanto mais pobre fosse o país, mais gente desejaria ajudar e pararia o carro. Descobriu que na verdade o mais importante é a maneira como o ato de pedir carona é aceito em cada cultura.
Chile, Nova Zelândia, Nicarágua e Malásia foram os lugares onde ele teve mais facilidade para viajar como “caroneiro”. O mais difícil, segundo ele, foram os Estados Unidos, já que em vários estados é proibido pedir carona nas estradas. “As pessoas ficavam muito assustadas e não foram receptivas quase nunca”, conta.
No Brasil, onde esteve de janeiro a março de 2011, o francês também passou aperto para se deslocar.
“Tenho que admitir que foi difícil. As pessoas ficavam com medo, mas entendo que perto das grandes cidades haja esse clima de violência que pode fazer pensar duas vezes antes de pegar um estranho”, diz.
Ainda assim, ele atravessou o país de sul a norte. Esteve em Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Palmas, Santarém, Manaus e Boa Vista. Entre Santarém e Manaus, conseguiu carona em uma balsa no Rio Amazonas.
Da Colômbia à Nova Zelândia de veleiro
Um de seus trechos preferidos da viagem foi cruzar o Pacífico durante quatro meses em um veleiro, da Colômbia até a Nova Zelândia.
No caminho, ele e seus companheiros de tripulação pararam em várias ilhas, como Galápagos e Polinésia Francesa. “Foi uma ótima viagem com uma ótima tripulação, e me deu tempo de pensar sobre o significado do que eu estava fazendo”, diz.
Mas nos cinco anos de viagem, Jérémy nem sempre navegou em mares tão tranquilos. Entre os problemas que teve, foi assaltado por policiais na Venezuela, roubado em Moçambique e em Honduras. Mas ele comemora nunca ter sofrido nenhuma agressão e, principalmente, não ter sido assaltado nem vítima de violência em nenhuma das caronas que pegou. “Encontrei pessoas com boas intenções em todo lugar.”
Economia
Durante os cinco anos e meio de viagem, Jérémy gastou, no total, 14 mil euros (cerca de R$ 36,8 mil, o que dá menos de R$ 7,3 mil por ano).
Para chegar a esse valor, além de não pagar nada pelo deslocamento, ele tratou de economizar com hospedagem e e refeições.
Comia em barraquinhas de rua e dormia em albergues baratos, na casa de membros da rede social Couchsurfing ou de pessoas que ele conhecia em cada lugar e que o convidavam para passar a noite.
Em uma dessas, ele conheceu a atual namorada, em Bali, na Indonésia. “Ela iria me hospedar por três dias e eu acabei ficando na casa dela por um mês”, conta ele. Depois que ele seguiu viagem, a garota foi visitá-lo no Camboja e na China.
Agora, um ano depois de terem se conhecido, Jérémy está em Bali com ela novamente, escrevendo um livro sobre a sua viagem, já encomendado por uma editora.
Fonte: G1