Bayard Boiteux

Cidade mais verde? Extremo oriental? Saiba o que é verdade sobre João Pessoa

João Pessoa completa 432 anos em 2017 (Foto: Dayse Euzébio/Secom-JP)

João Pessoa completa 432 anos em 2017 (Foto: Dayse Euzébio/Secom-JP)

Cidade mais verde, extremo oriental, terceira cidade mais antiga, onde o Sol nasce primeiro. Esses são alguns dos títulos que João Pessoa recebe. Neste sábado (5) em que a cidade comemora 432 anos, o G1checou o que é lenda e o que é verdade sobre a capital da Paraíba.

Ex-prefeito Carlos Mangueira mostra revista que afirma que João Pessoa é a segunda cidade mais verde do mundo, que foi distribuída na Eco-92 (Foto: Krystine Carneiro/G1)

Ex-prefeito Carlos Mangueira mostra revista que afirma que João Pessoa é a segunda cidade mais verde do mundo, que foi distribuída na Eco-92 (Foto: Krystine Carneiro/G1)

João Pessoa é a segunda cidade mais verde do mundo

Não há comprovação. O “título” de segunda cidade mais verde do mundo, ou mais verde do Brasil, foi “aclamado” em 1992 pelo então prefeito de João Pessoa Carlos Mangueira, durante a Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento, a Eco-92, no Rio de Janeiro.

Após 25 anos, ele explica que a constatação foi do publicitário Carlos Roberto de Oliveira e “fundada em dados empíricos”, mas admite que não houve levantamento científico para comprovar a informação.

“Essa hipótese foi lançada em um artigo da revista Marie Claire e Carlos Roberto levantou a ideia. Então nós lançamos esse tema, dei entrevista, distribuímos revistas em português e em inglês na Eco-92, onde estavam as maiores autoridades em meio ambiente do mundo. Até ao Dalai Lama eu entreguei a revista. Mas, até hoje, não houve nenhuma contestação. Competiria aos opositores, provar. Então ficou por aclamação”, explicou.

Apesar de arborizada, título de segunda cidade mais verde do mundo de João Pessoa foi ganhado por aclamação; foto mostra o Parque da Lagoa Solon de Lucena (Foto: Dayse Euzébio/Secom-JP)

A entrevista citada por Carlos Mangueira foi feita à extinta TV Manchete, ao jornalista Renato Machado.

“Ele [Renato Machado] gostava muito de Paris. Como João Pessoa era a segunda, ele perguntou qual era a primeira. E eu disse ‘é Paris’. E ele concordou”, declarou o ex-prefeito.

Porém, não há nenhum estudo que comprove o título de João Pessoa. O último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, constatou que João Pessoa tem 78,4% de arborização nas vias públicas, perdendo para capitais como Goiânia (89,5%), Belo Horizonte (83%) e Porto Alegre (82,9%).

“Esse título é irrefutável. Hoje, podem até fazer estudos e tirar João Pessoa do posto. Mas ninguém pode dizer que na época ela não era a segunda cidade mais verde do mundo”, pontuou Carlos Mangueira.

Possibilidade de João Pessoa ser atingida por um tsunami é remota, diz doutor em geociências (Foto: Dayse Euzébio/Secom-JP)

Possibilidade de João Pessoa ser atingida por um tsunami é remota, diz doutor em geociências (Foto: Dayse Euzébio/Secom-JP)

João Pessoa pode ser atingida por tsunami

É pouco provável. A lenda é que uma erupção em um vulcão ao lado das Ilhas Canárias – arquipélago espanhol no Oceano Atlântico, ao largo de Marrocos – poderia causar ondas gigantes que iriam atingir a costa da Paraíba, incluindo João Pessoa. Para o professor do departamento de Geociência da UFPB Eduardo Galliza, a possibilidade de um tsunami em João Pessoa é tão remota que pode ser descartada.

“Dependendo do tipo de vulcão, podem haver erupções mais catastróficas ou não. Mas não teriam tanta magnitude para causar tantos estragos. Quando um vulcão entra em erupção, ele começa mais intenso e vai evoluindo para uma coisa menos catastrófica, vai perdendo energia. Grandes erupções têm suas consequências, mas essas consequências estão ligadas às áreas mais próximas ao vulcão”, explicou Galliza.

Maternidade Cândida Vargas, em João Pessoa, Paraíba (Foto: Francisco França/Jornal da Paraíba)

Maternidade Cândida Vargas, em João Pessoa, Paraíba (Foto: Francisco França/Jornal da Paraíba)

Moradores de João Pessoa nascem no interior

Não é verdade. Apesar de existir uma crença de que a maioria dos moradores de João Pessoa não nasceu na capital e sim em cidades do interior da Paraíba, o IBGE não sustenta essa informação. De acordo com os indicadores do último censo em 2010, dos 723.515 residentes na cidade, 450.184 – ou seja, mais de 62% – são naturais de João Pessoa. Conforme a pesquisa, 273.331 dos moradores não eram nascidos na própria capital.

Ponto mais oriental das Américas fica em um pontal na Ponta do Seixas, e não na Barreira do Cabo Branco, em João Pessoa (Foto: Rafael Passos/Secom-JP)Ponto mais oriental das Américas fica em um pontal na Ponta do Seixas, e não na Barreira do Cabo Branco, em João Pessoa (Foto: Rafael Passos/Secom-JP)

Ponto mais oriental das Américas fica em um pontal na Ponta do Seixas, e não na Barreira do Cabo Branco, em João Pessoa (Foto: Rafael Passos/Secom-JP)

João Pessoa é o ponto mais oriental das Américas

Verdade. Considerando a América continental, João Pessoa é, sim, o ponto mais oriental, conforme explicou o professor do departamento de Geociência da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Eduardo Galliza. No entanto, o extremo oriente não fica na Barreira do Cabo Branco, local onde está localizado o Farol do Cabo Branco e também onde foi construído o monumento Rosa dos Ventos, que indicaria o ponto mais oriental.

O extremo oriente das Américas, na verdade, fica localizado em um pontal de areia, na Ponta do Seixas. A região é vizinha à Barreira do Cabo Branco, porém, não fica no alto da falésia, mas na areia, e não tem nenhuma estrutura turística para chamar a atenção dos visitantes.

Sol nasce primeiro em João Pessoa na maior parte do ano (Foto: Phillipe Xavier/Jornal da Paraíba)

Sol nasce primeiro em João Pessoa na maior parte do ano (Foto: Phillipe Xavier/Jornal da Paraíba)

O Sol nasce primeiro em João Pessoa

Nem sempre. Por ser o ponto mais oriental das Américas, o Sol nasce primeiro em João Pessoa – mas não o ano todo. Segundo o professor de meteorologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Enio Souza, por causa da rotação da Terra, o Sol declina para norte e sul, dependendo da época do ano, causando mudanças no ponto onde os raios solares batem primeiro.

“Isso acontece principalmente no auge do verão, fim de dezembro e começo de janeiro. Nesse período, o ponto em que o Sol nasce primeiro fica mais a sul, talvez Bahia ou Espírito Santo, por conta da inclinação do eixo da Terra. João Pessoa seria o primeiro ponto o ano todo se ficasse alinhada à linha do Equador. Mas, na maior parte do ano, a tendência é tocar no ponto mais à leste mesmo”, explicou o professor, que é doutor em meteorologia.

Prédio no Centro foi o primeiro Prédio no Centro foi o primeiro

Prédio no Centro foi o primeiro “arranha-céu” de João Pessoa (Foto: Acervo Ario Farias)

João Pessoa nasceu no Centro e só depois chegou à praia

Verdade. Ao contrário da maioria das capitais litorâneas do Brasil, João Pessoa nasceu na região do Centro da cidade, no século XVI, e a povoação da praia só aconteceu séculos depois. De acordo com o professor de arquitetura da UFCG e Unifacisa e vice-presidente nacional do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Fabiano Melo, a ocupação teve início na cidade alta, nas imediações do Varadouro, Cruz das Armas, Rua das Trincheiras e, no máximo, em Jaguaribe.

“Apenas no início do século XX houve o saneamento da Lagoa e a construção da Avenida Epitácio Pessoa. Isso marca a expansão da cidade em direção à praia. Tinha um bonde que saía da Energia e ia até a praia. Mas antes, ela era mais uma área de veraneio. A ocupação maciça mesmo só vai se dar nos anos 50 e 60”, explicou o arquiteto, que é mestre em engenharia urbana.

Prédio João Marques de Almeida, no Cabo Branco, foi construído antes da lei que proíbe prédios de mais de três andares em João Pessoa (Foto: Krystine Carneiro/G1)Prédio João Marques de Almeida, no Cabo Branco, foi construído antes da lei que proíbe prédios de mais de três andares em João Pessoa (Foto: Krystine Carneiro/G1)

Prédio João Marques de Almeida, no Cabo Branco, foi construído antes da lei que proíbe prédios de mais de três andares em João Pessoa (Foto: Krystine Carneiro/G1)

João Pessoa não pode ter prédios altos na orla

Verdade. A Constituição do Estado da Paraíba – de 1989 – prevê que na orla de todo o estado, incluindo João Pessoa, não é permitida a construção de prédios com mais de 12,90 metros de altura, compreendendo pilotis e três andares. Os prédios mais altos que existem na orla da capital foram construídos antes da publicação da lei.

Largo São Pedro Gonçalves, no Centro Histórico de João Pessoa (Foto: Juliana Santos/Secom-JP)

João Pessoa é a terceira cidade mais antiga do Brasil

Verdade. Em 1585, quando João Pessoa se tornou cidade, já existiam vários outros povoamentos e vilas no país. Porém, conforme explicou o professor de história da UFPB, Mozart Vergetti, João Pessoa já foi fundada com o título oficial de município, enquanto estes povoamentos e vilas só depois foram elevados a cidades. Com isso, a capital paraibana é a terceira cidade mais antiga do Brasil, atrás apenas de Salvador, fundada em 1549, e Rio de Janeiro, de 1565.

Cidade nasceu às margens do Rio Sanhauá (Foto: Dayse Euzébio/Secom-JP)

Cidade nasceu às margens do Rio Sanhauá (Foto: Dayse Euzébio/Secom-JP)

João Pessoa foi fundada em 5 de agosto

Não é verdade. O dia 5 de agosto é especial para João Pessoa, mas não por conta da fundação da cidade. Segundo o professor de história Mozart Vergetti, da UFPB, esse dia marca o acordo de paz firmado entre os portugueses e os índios tabajaras, que foi uma reviravolta no confronto. Como o dia era de Nossa Senhora das Neves, por respeito à santa, o nome dela foi dado à povoação.

A fundação da cidade só aconteceu meses depois, em 4 de novembro, conforme explicou o professor. Na ocasião, o português Martim Leitão andou de cavalo do Rio Jaguaribe ao Cabo Branco, mas escolheu o Varadouro, às margens do Rio Sanhauá para construir um forte e iniciar o povoamento da cidade.

Fonte: G1

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