No Atlântico Norte, há um grupo de ilhas vulcânicas isoladas conhecidas por sua beleza rochosa. Cada vez mais procuradas pelos turistas, as Ilhas Faroe anunciaram neste ano que estavam fechando temporariamente partes da região.
A primeira coisa que você percebe nessas ilhas, no meio do caminho entre a Noruega e a Islândia, é o clima.
Rajadas de vento monstruosas dão boas-vindas aos aviões enquanto eles pousam no pitoresco aeroporto de Vagar. Fora do terminal, a sua força pode quase derrubar uma pessoa.
Quando as autoridades do arquipélago declararam que estavam fechando 11 pontos turísticos populares por dois dias no mês passado, também fizeram chamados por voluntários. “Fechado para manutenção, aberto para o voluntarismo”, disse o vídeo.
Dentre milhares de inscrições, cem pessoas foram selecionadas. Com idades entre 18 e 75 anos, saíram de 25 países, incluindo a Austrália.
Esses “volunturistas” aceitaram pagar suas próprias passagens e trabalhar por dois dias em locais selecionados. Em troca, recebem alimentação e alojamento.
Na chegada, eles são divididos em grupos identificados por cores para trabalhar com moradores das 18 ilhas.
O “grupo marrom” é rapidamente colocado para trabalhar perto do local histórico mais importante da ilha na aldeia de Kirkjubour, o lar de cerca de 50 residentes, na maior ilha de Streymoy.
Poucos entre a equipe formada por britânicos, noruegueses, dinamarqueses e irlandeses têm ideia do que os espera.
Eles enfrentarão uma trilha rochosa de 7 km, serpenteando por colinas sob névoa, e por um dia inteiro de trabalho levantando pedregulhos pesados.
Até o fim do dia, todos na equipe estão arranhados e machucados, descobrindo músculos que eles nem sabia que existiam. Muitos citam também sentimentos de satisfação e de pertencimento.
O voluntário dinamarquês Casper Abenth veio em busca de um desafio, longe de seu típico trabalho de escritório.
No segundo dia, eles continuam a tarefa de construir a trilha. O “grupo verde” está trabalhando em locais rochosos cobertos de névoa na ilha de Sandoy. Eles estão em Skarvanes, um vilarejo com menos de dez moradores.
A equipe, que inclui alemães e americanos, é encarregada de consertar a antiga trilha e portões e construir degraus em cercas ou telhados.
Outros grupos de voluntários estão ocupados trabalhando em diversos projetos, incluindo ajudar a preservar a natureza e proteger os santuários de aves.
‘Impacto acima das expectativas’
Depois de dois dias de trabalho árduo, os organizadores do projeto “Visit Faroe Islands” dizem aos voluntários que seus resultados tiveram um “impacto notável”, acima das expectativas.
“Foi maravilhoso ver tantos rostos de todo o mundo se unirem a aldeões e fazendeiros locais com uma missão conjunta e uma atitude de ‘arregaçar as mangas'”, diz o diretor Guðrið Hojgaard. Um projeto semelhante para 2020 já foi anunciado.
O conceito de “volunturismo” em si não é novidade: tais iniciativas ocorreram em outros lugares nos últimos anos. Então, o esquema inova o turismo responsável ou é apenas uma campanha publicitária inteligente para atrair mais visitantes?
Os ilhéus dizem que os projetos de manutenção foram coordenados com eles e levaram em conta primeiro suas necessidades. Em algumas áreas, os planos precisaram ser ajustados para não danificar o frágil ecossistema.
“Isso foi algo que realmente teve que ser feito para os moradores. Então, não foi apenas uma ofensiva de relações públicas”, disse o fazendeiro da Sandoy, Jacob Martin Debes, acrescentando que os principais beneficiários dos projetos de manutenção seriam os moradores locais.
Uma nova Islândia?
A grande questão agora é como encontrar o equilíbrio certo entre atrair mais turistas e proteger o ecossistema e o modo de vida tradicional.
A ideia de uma explosão no turismo pode parecer improvável, já que as Ilhas Faroe – um país autônomo do reino da Dinamarca – ainda são relativamente desconhecidas, mesmo na Escandinávia.
“Não é fácil promover as Ilhas Faroe, porque estão no meio do nada”, disse o voluntário sueco Hakan Johansson.
Viajar nesta região também continua a ser uma grande dor de cabeça. Mas há uma mudança em curso. A Islândia, vista por alguns locais como um irmão mais velho cultural e linguístico, tornou-se um destino turístico com mais de 2 milhões de visitantes por ano.
E há uma expectativa de que essas ilhas nórdicas possam seguir o mesmo caminho, devido a um aumento de 10% no turismo e aos 110 mil turistas recebidos em 2018.
“Não queremos virar uma nova Islândia. Temos que manter tudo como sempre esteve aqui”, diz um representante regional de turismo. “Não queremos hotéis e apartamentos feios invadindo nossas ilhas. Temos que proteger os agricultores locais e suas ovelhas.”
A pitoresca capital de Torshavn tem uma população de cerca de 20 mil habitantes e apenas dois hotéis, embora mais dois estejam sendo construídos.
Para todos os grandes planos das Ilhas Faroe, o primeiro-ministro das Ilhas Faroé, Aksel Johannesen, deixou claro que valoriza a “enorme responsabilidade” de cuidar da comunidade e do meio ambiente.
“Embora recebamos pessoas de todo o mundo para conhecer as Ilhas Faroe, também precisamos preservar e proteger o que temos para garantir um futuro sustentável.”
Parte das imagens são de Saviour Mifsud, fotógrafo baseado nas Ilhas Faroe.
Fonte: BBC