Bayard Boiteux

As colagens e o turismo

Quando se escreve, se fala de si mas também para os outros, através de fatos pouco conhecidos mas que despertam interesse e demandaram alguma pesquisa. Ela é feita na maior parte das vezes, dentro de nós, quando vamos abrindo gavetas e as despojando de conteúdo ou as preenchendo com ideias, que vão se transformar em frases. São palavras soltas que se formatam em texto, que quase sempre precisa ser revisto, copidescado e publicado, em quem acredita em sua beleza.

Nossos corações são plenos de recortes, que vieram à tona no confinamento e que se juntando puderam ser cicatrizados ou, pelo menos, conhecidos e tratados com palavras de arte e de amor de profissionais especializados, a tão nobre profissão dos psicólogos. E eles foram nos ajudando a encontrar novas aptidões, que devem em primeiro lugar nos fazer bem e não necessariamente agradar quando as tornamos públicas. O ideal é que suscitem alguma discussão e que permitam dentro de ideais democráticos, evolução e generosidade.

As colagens, estilo artístico pouco desenvolvido e conhecido, consegue reunir pedaços em seus finalmentes. De forma manual ou digital trazem novos olhares sobre recortes de revistas, jornais, desenhos, fotos e acabam por criar uma emoção sob vários aspectos em quem possui sensibilidade para parar e apreciar. É um gesto de consideração, de amizade, de algo mágico que pode despertar gatilhos em nossas emoções e trazer novas reinvenções.

Colar nada mais é do que juntar num único espaço, sentimentos de criação profunda espontânea, permeados por angustia de amar, de ser, de existir ou de acreditar que podemos reconstruir, o que alguns explodem por desconhecimento ou por pouco valorizar o esforço alheio. Fazemos dos momentos preconizados na arte uma volta a nossa infância onde desenhávamos sem saber mas tendo consciência de que tentávamos nos expressar.

O turismo é um pouco tudo isso. São tantas fotos, tantas lembranças, tantos sentimentos, tantas certezas que caem por água abaixo e que nos aculturam num devir contínuo. O turismo junta pessoas e emoções opostas e diferentes e busca, por exemplo seduzi-las com as palavras de encantamento dos guias. Soltas num discurso longínquo, mas que vão nos empolgando à medida que nos deixamos penetrar por cada pedaço de informação.

Fazer uma viagem é juntar vários “eus” num único ser maior que se abre para o desconhecido, por conta própria ou num pacote sistematizado por uma agência de viagens, que acolhe várias notas de uma música, cantada de maneiras plural por quem tenta reproduzi-las.

Palavras, colagens e turismo formam hoje meu mundo. Um mundo real que fica sintonizado com uma rádio, que rapidamente se constrói e desconstrói, na aceitação filosófica e prática. Que simplesmente acredita em juntar pedaços para sobreviver.

Bayard Do Coutto Boiteux

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